VONTADE DE VIVER

Por Gil Nunes

Fico sempre imaginando o que seria da nossa vida se não tivéssemos um pouco de comédia e humorismo nela. Se observarmos, veremos que nos momentos em que estamos estressados, damos um, dois, dez, trinta... passos da nossa existência para trás. E então, chega também aquele momento em que refletimos sobre tudo que acontecera e notamos quantos atos e palavras poderiam ser evitados, realizados ou ditos de outra maneira menos estressante. 

Por outro lado, quem poderia ter exatamente todas as respostas? Acredito, ninguém. Mas sei que, mesmo que não saibamos muito sobre muitas situações da vida, podemos com um pouco de humor, deixar nossa vida e a vida das pessoas bem mais feliz, produtiva, e o melhor de tudo isso é que poderemos dia a dia nos descobrir e nos redescobrir, conhecendo mais e mais os mais profundos segredos, aqueles tão importantes e que não partilhamos com qualquer pessoa.

Sim, porque, na realidade da vida, a vida não é assim: DIZ AÍ! A vida é uma troca. A vida é um modo de viver que traga motivação, combustível, posso dizer que, trata-se de uma espécie de alternador que revitaliza o motor do cérebro, do corpo e do espírito em cada um de nós.

Eu sei, nem todo mundo, digo mais, a maioria não está numa condição de satisfação contínua, pois sempre falta alguma coisa; física, mental, espiritual ou material.

Quando eu falo em levar a vida com humor, fazendo comédia da nossa vida, inclusive, não estou falando de conformismo, não falo de viver uma vida hipócrita e medíocre, falo de uma vivência em que sabemos claramente quem somos; nossos pontos fracos, nossos pontos fortes, o que somos capazes de compreender ou não, nosso potencial de interagir com as outras pessoas, nossas necessidades, nossos desejos, nossas brigas interiores, vez que cismamos com isto ou aquilo em nós mesmos.

São inúmeros porquês da vida, que deles, podem brotar pensamentos e sentimentos bons ou não. Nossa mente, nosso coração, são celeiros de coisas boas. Por isso, precisamos parar de vislumbrar somente aquilo que nos deixa tristes, todavia, buscarmos as riquezas que estão dentro de cada um de nós. Não estou falando aqui de religião, falo independente da religião que a pessoa faça parte ou não. Estou falando aqui de praticidade da convivência da pessoa com ela mesma e com as outras pessoas. Não. Não falo aqui de autoajuda, pois sei que existem pessoas que simplesmente odeiam esses “gurus’ que tentam empurrar pela goela abaixo aquilo que querem vender às pessoas. Falo sim, de um compromisso de você na qualidade de pessoa humana comprometida com você mesma neste sentido de estilizar sua vida com este propósito.

Por vezes, é tão difícil contar com as outras pessoas para isto, e não é bom que você dependa delas para alcançar um patamar favorável a você e a elas. 

Você precisa criar em si mesma como pessoa, a qualidade de botar riquezas dentro de si, vindas de você, de dentro de você, para você e para as outras pessoas.

Certamente você se deparará com algum tipo de pessoa que lhe alegrará o coração em meio às coisas mais simples da vida, porém, outro tipo de pessoa, que mesmo lhe oferecendo as riquezas materiais do mundo todo, ainda assim, ela não terá a condição, a capacidade de alegrar o seu coração e a sua alma. 

E, como resolver isto? Sinceramente eu não sei. O que sei é que aquele tipo de pessoa que alegra nosso ser é um tipo especial, pois a pessoa nem precisa falar nada e mesmo assim ela consegue animar nossa vida de um jeito que todas as palavras do mundo todo não seriam capazes de dar a devida explicação.

E é assim, que a comédia e o humor precisam estar em nós, para que, com nosso jeito palhaço, possamos, ser e viver.

Entretanto, sem medo de sermos ridicularizados, massacrados e condenados pelas línguas das pessoas que, ora entendem e aceitam, e em outros casos, repudiam por medo, raiva ou inveja de nós, os que conseguem levar a vida com comédia e humor diariamente.

Agora, quem será mais estressado? Quem chegará lá no ponto ideal de satisfação da vida? Quem conseguirá sentir aquilo que os olhos não conseguem enxergar? 

Eu sei, são aquelas pessoas que levam a comédia e o humor a sério. Não confundir comédia / humor com palavras e atos de baixo calão. Não é disso que falo aqui. Falo do ser engraçado com inocência. Não uma inocência de ser ignorante ou ingênuo. Falo de uma rica maneira de ser e viver de um jeito que anime a si e aos outros numa caminhada dentro da liberdade de ser feliz e de dar felicidade. E, óbvio, entender que a liberdade para ser feliz não pode ser vendida ou comprada. Não sei explicar isso. Trata-se de algo que foge do meu entendimento de explicação.

Conversando com algumas pessoas, observo na fala delas, nos seus olhos e expressões do corpo que, mesmo dizendo que são livres para serem felizes, claramente se percebe o quanto vivem num verdadeiro inferno enganando a si e aos outros. A resposta de realidade de vida é que, são presas e infelizes.

Contudo, sim, a vontade de viver existente em nós, nos possibilitará todas as riquezas, pois a motivação partirá de nós mesmos e não de um cargo ou título que possuímos nem das outras pessoas do que elas poderão nos proporcionar. Nós seremos a peça motriz em nós mesmos e faremos a diferença sem forçar qualquer situação, sem violentar o espaço e o direito das outras pessoas. Entender que podemos tudo a partir de nós mesmos. Tendo a consciência viva e relevante para viver hoje sem se preocupar com o amanhã e nem viver chorando pelo ontem.

Viver a vida com comédia e humor é um jeito diferente de ter a capacidade de ser protagonista da própria vida, escrevendo-a e vivendo na prática aquilo que acredita, desenvolvendo continuamente um jeito novo e renovado, mesmo que você tenha oitenta anos de idade, procurando ser engraçado consigo e com os outros sem ser chato e inconveniente, deixando que as pessoas lhe procurem quando estiverem bem e procurando-as quando  estiverem doentes e necessitadas da sua presença, do seu jeito, do seu remédio de vida para a vida delas. Porque eu sei, as pessoas engraçadas e misteriosas ao mesmo tempo, são as mais requisitadas pelas outras pessoas. Sim, eu sei. Sabe por quê? Porque ser assim é raro. Ser assim, é ter vontade de viver.