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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Flores entre espinhos

Por Gil Nunes

Andei pelo deserto, passei fome, senti frio, estive nu, descalço, com sede, triste, choroso, fui abandonado, vaguei pela sombra da escuridão, minha pele queimou-se ao relento na força imensa do Sol, durante a noite quase fiquei congelado de frio, procurei um amigo e não encontrei um sequer, quando precisei de um ombro amigo, de repente, não havia ninguém para acudir-me, para ajudar-me, para abraçar-me, para conversar comigo, para ouvir-me, pois todos os que se diziam amigos, não estavam perto ou estavam ocupados com suas questões pessoais e ou associativas por causa das convenções que fizeram uns com os outros e assim, honrando uns aos outros entre eles, comprometeram-se apenas uns com os outros, a dor tomou conta da minha alma e, por isso, ficou enfadonha, meus olhos cansaram-se de observar o mal que as pessoas faziam umas contra as outras, vi também o comprometimento das pessoas por causa do interesse que elas tinham nas vantagens que lhes eram permitidas na troca dissoluta por causa do erro pautado nesse interesse inerente a cada qual que se interessava porque as vantagens eram importantes mais que tudo, mais que qualquer coisa e ou pessoa na vida. – infelizmente, algumas pessoas que eu mais amava, tentaram destruir minha vida e, até hoje, não posso compreender, não consigo entender o porquê disso. – elas tentaram destruir minha vida em todos os sentidos; física, mental e espiritual, e ainda, meu nome, minha reputação, minha dignidade, meu sorriso, minha alegria, meus conhecimentos e, até mesmo, minha fé. – apesar de mim. - o que posso dizer é que, a todas elas ajudei, auxiliei, dei-me a elas, às que estavam tristes, levei alegria, às que se sentiam sozinhas, dei-lhes minha presença e meu calor humano, às que estavam abandonadas, fui ao encontro delas, dando-lhes lugar em segurança no espírito, no corpo e na alma, dei-lhes, portanto, provisão, conforto e harmonia, às que foram maltratadas, com elas eu também fui, fiz questão de ser enquanto lambia as suas feridas, às que disseram horrores contra mim, diante delas e dos que se ajuntaram com elas para o mal, calei-me, preferi alegrar o coração delas e deles na plenitude de um palhaço destituído de qualquer direito a ser reivindicado, alegrei o coração dos meus algozes porque acredito na força da delicadeza, acredito na integridade da nobreza e na pureza do meu coração que anseia por tudo isso, na compreensão de querer entender aqueles que pensavam que sabiam tudo, quando na verdade, sabem bem pouco por causa da intolerância e da soberba, destas duas enfermidades foram acometidos porque se colocaram como se deuses fossem neste mundo, às que não enxergavam em meio à escuridão, levei-lhes a luz, dei-lhes a claridade do dia por meio das minhas palavras, que na verdade não são minhas, mas daquele que criou todas as coisas, às que sentiam fome, dei-lhes o que comer para alimentação, às que sentiam sede, de mim, água receberam, às que estavam com frio, dei-lhes minhas roupas e quando as minhas roupas acabaram ou foram insuficientes, com meu próprio corpo lhes aqueci juntamente com meu abraço, com meu beijo de ternura e com meu amor sublime, amor que não se mede e pouco se repete, às que andavam sem esperança, com elas dividi minha fé sem cobrar nada por isso, e assim, foram, portanto, reanimadas, fortalecidas, revigoradas, resguardadas, protegidas, ensinadas a continuarem fortes e livres dos medos, às que tiveram as piores experiências, dei-lhes um pouco do Oásis que dentro de mim habita e nada lhes neguei em todos os momentos da minha vida, eu sempre soube que, quanto mais dou, mais tenho para dar, dar às que nada têm a oferecer, às que foram mentirosas, tive paciência para lhes ensinar o caminho da verdade e, ao mesmo tempo em que com elas eu brincava, fazendo-lhes sorrir, também podiam aprender o caminho da verdade, porque sei que, só a verdade liberta, às que se achavam muito mais inteligentes e espertas, tive a paciência de, com o que sou, mostrar-lhes que nem sempre tudo é do jeito que elas pensam, sentem, querem e fazem por causa da capacidade do seu poder aquisitivo e ou de influência social, às que me enganaram, olhei bem dentro dos seus olhos e com um sorriso no canto dos lábios, olhar cheio de ternura e amor, dei-lhes um doce beijo na testa, como quem diz; não fique triste, não se envergonhe de você, nem daquilo que você é e fez em detrimento de mim, nada mudou, está tudo bem, meu amor por você continua o mesmo, às que me iludiram, agradeci pelo privilégio de darem a mim, a possibilidade de transformar todas as ilusões em sonhos que se realizam em minha vida a cada dia que nasce, às que foram presunçosas, dei-lhes de mim, tudo que queriam, nada lhes neguei ou cobrei, porque, do que precisavam, eu não precisava e não preciso até hoje, às que me insultaram, as deixei vitoriosas porque necessitavam dessa vitória, às que me deram as mãos, nelas eu agarrei e jamais soltei, às que me deram o sorriso, com todas elas me alegrei, às que me deram carinho, também, quatro vezes mais carinho lhes dediquei, às que estavam retardatárias na vida, com elas eu não tive pressa de andar, passei todo o tempo necessário para que se desenvolvessem e se desenvolveram, às que se desenvolveram, não cobrei nada, apenas fiquei feliz por isso, às que estavam certas, dei-lhes a razão, às que precisavam de vida, dei-lhes mais que minha razão, sim, provaram o gosto da minha emoção, provaram o gosto da minha vida dividida com elas, algumas agradeceram por isso, outras, nem tanto assim, às que gritaram em desespero, corri para lhes acudir, acudi umas e outras, não todas, sinto muito por eu não ser onipresente, às que sofreram perdas, com elas e por elas também perdi, às que se inflamaram por causa do ódio, deixei que provassem o gosto da concórdia e da conciliação, às que procuravam o enriquecimento ilícito, malicioso e mortal, pensando elas que somente as riquezas materiais e financeiras poderiam mensurar o valor da vida, com meu jeito simples destituído de tais riquezas e ou de louvor e adoração a elas, mostrei-lhes que a vida já possui seu valor máximo por ser ela mesma do jeito que é; imagem e semelhança de Deus, às que tinham dúvidas, dei-lhes a verdade como o destilar do orvalho numa manhã de sábado, domingo ou feriado, às que me humilharam, dei-lhes meu sorriso de franqueza, doçura e amor, às que me enfrentaram de maneira injusta, dei-lhes o combate da minha defesa com justiça, humildade e humanidade, às que me cuspiram no rosto e bateram em minha face, ali, quieto, fiquei, aguardei até que pudessem saciar a plenitude do seu desejo de violência contra mim, como quem oferece a outra face, e isto fiz sem demora, às que usaram e abusaram de mim, delas nada tenho a dizer, nem a cobrar, às que tiveram raiva da minha opinião por causa do que sei e creio, sinto muito por desapontá-las, mas sou o que sou e sei que há alguém que é maior do que todos, pois sei também que nada somos sem exceção se a comparação for feita, às que levavam vantagem em tudo por causa da má consciência que tinham, a elas, sobre isto, nada falei, a vida ensina, as consequências são boas professoras, às que não acreditaram em Deus, lhes ensinei que Deus ama a todos independentes de acreditarem ou não nele, e, que, também, Deus ama o livre arbítrio, vez que Ele não quer que ninguém o ame por obrigação ou por medo, às que acreditaram em Deus, pude sofrer com elas as perseguições, perseguições essas, principalmente advindas daquelas pessoas que se diziam adoradoras de Deus e não são, aliás, jamais foram porque quem é de Deus não tenta destruir a vida das outras pessoas, nem mesmo por vaidade e ou presunção, posto que a verdade jamais tenha que ficar escondida, às que estavam presas física, mental e espiritualmente, dentro das minhas forças naquilo que pude, dei-lhes a liberdade, às que sofriam ameaças, por elas me indignei e por elas lutei sem temer os injustos algozes que pensavam que defendiam seus “princípios” “morais” e “éticos”, às que me ensinaram, dediquei minha vida de corpo, alma e espírito, assim agi na fluência, visão, virtude e esmero de um excelente aluno, às que fizeram conta da minha presença, naquilo que pude, esse desejo jamais lhes neguei, às abandonadas deste mundo, por mim abandonadas nunca foram e jamais serão, às doentes, mental, física e espiritualmente, por elas fui mais que médico, cheguei a ser um doente, mental, física e espiritualmente juntamente com elas para entender a doença mental, física e espiritual delas, para que, de algum modo, todas elas fossem curadas, às viciadas, fui um tipo de psicanalista, às endinheiradas, fui pobre, às pobres, fui amigo, às cheias de virtudes, fui companheiro e destro aprendiz, às bondosas, fui terno e compassivo, fui um pouco de tudo daquilo que elas foram, para que, de algum jeito, pudessem melhorar / superar o estado de vida para uma vida melhor em todos os sentidos na vida delas. – eu sou tudo e ao mesmo tempo não sou nada, porque, longe de mim de me gloriar. – já afirmou certo Autor desconhecido, dizendo que: - “Toda Glória é Passageira”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Saída do Parque Villa Lobos

Por Gil Nunes

Por vezes vou a um dos Parques da cidade, dentre os fartamente oferecidos à população e me deparo com diversas situações quando passo a observar as pessoas. – quem pensa que vou para me exercitar se engana. – vou sim, para me descontrair, para não pensar em nada e, ao mesmo tempo, para deixar que minha mente se esvazie de mim mesmo a fim de que algo novo possa pulverizá-la como o destilar do orvalho. – geralmente não gosto de mato. – gosto da mistura da grande metrópole com áreas verdes. – essa conversa de ficar velhinho e ir para uma cidadezinha do interior ou para um sítio não faz parte da minha necessidade de consciência física, mental e espiritual. – inclusive porque não penso em me aposentar. – acredito que, se uma pessoa vive até seus 120 anos de idade, e até lá, trabalha, estuda, se ocupa na sua tricotomia (corpo, alma e espírito), sem dúvida realizou essencialmente a sua trajetória de vida. – não sou muito ligado ao hedonismo e, quem sabe, deva ser este o motivo pelo qual, assim, me realizo.

Acredito também que, de modo totalmente solto, somos corresponsáveis uns pelos outros. – vendo o mundo desta forma, posso eu, de um jeito ou de outro, contribuir para a evolução mental, física e espiritual das pessoas. – seria como vivenciar um mundo de troca, que, geralmente, não se trata de um toma lá da cá, de uma troca imediata, às vezes isso acontece de imediato, mas normalmente não. – seria como fazer algo de bom / interessante por alguém numa terça-feira e, depois, numa quarta ou quinta-feira, outra pessoa, também, realizaria algo a nosso favor. – contudo, não há que se dizer que se faça algo aqui em prol de, que, também, obrigatoriamente a recompensa da boa vontade tenha que ocorrer, não, não é assim que acontece e nem deve acontecer. – por outro lado, quando não acontece recíproca entre as pessoas, outra coisa boa e maravilhosa acaba acontecendo em outra esfera da nossa realidade humana. – pelo menos tem sido esta a minha experiência de vida, muito embora cada pessoa pense, sinta e se mova de acordo com suas preferências / aspirações, que, como posso perceber, nem sempre são iguais às minhas.

E, num Parque, numa Praia, num Shopping, num Clube, na Rua dentro e fora dos veículos e estabelecimentos da cidade, podemos se acaso houver interesse de nossa parte, observar as pessoas e ao mesmo tempo em que as observamos, aprendemos com elas e assim, nos tornamos melhores pessoas, pode até demorar para que isso aconteça, mas acontece sim, sem sombra de dúvida, nos tornamos melhores pessoas.

Os Parques da cidade oferecem a possibilidade de estarmos desarmados das nossas pretensões, assim como ocorre na Praia, já em Clube, Shopping, dentro e fora dos Carros e Estabelecimentos da cidade é bem mais difícil por causa da imponência que surgem de maneira intrínseca nas pessoas, não sei, talvez seja porque elas queiram agir de modo imponente sem deixar brecha para uma maior informalidade de vida.

Então, ali, no Parque, dividimos nossa presença física com várias pessoas, umas diferentes das outras, porém, são todas iguais no sentido de buscarem refrigério mental, física e espiritual. – elas querem andar, praticar alguma modalidade esportiva, passear de mãos dadas ou não, livres, soltas, juntas, dispostas a darem um basta na correria da vida, algumas, observo, que, levam livros de literatura, tudo, com o firme propósito de encontrarem ali, um lugar para uma troca imediata da presença humana ou animal, vez que muitas delas aparecem com seus cães e gatos, ocorrendo ainda, a troca da presença delas com a presença das árvores. – e foi exatamente isso que constatei, numa das vezes que estive lá, uma mulher bem aparentada falava com três árvores, ela conversava com as árvores como se dirigisse a três pessoas. – a priori, pensei que estivesse brincando, mas não, estava literalmente conversando com as árvores. – um pouco mais à frente, um senhor de idade estava adestrando seu cão, ensinando o comportamento certo, segundo ele, ao seu companheiro de passeio no Parque. – outras pessoas cegas pedalavam juntamente com as que enxergavam o caminho, numa espécie de veículo sem motor que mais se parecia com um bondinho das antigas. – andando, continuei observando a natureza e as pessoas, e, notei que uma moça chorava desesperadamente, parecia que perdera alguém muito importante em sua vida, talvez a perda de um ente querido ou de um relacionamento duradouro, o emprego eu tinha absoluta certeza que não, e, ao observá-la, eu quis estancar aquelas lágrimas e ter a capacidade de poder trazer a alegria e paz de volta ao seu semblante, mas não pude. – olhando para minha esquerda, vi que outra moça dava tapas num rapaz que tinha quase a mesma altura dela, ele, nada podia fazer, apenas tentava se desvencilhar daquela agressão que mais se parecia com briga por causa de ciúme que sentia do seu amado, que, naquele momento foi chamado por adjetivos que nem posso dizer agora, todavia, dava-se para perceber que se tratava de briga de amor pelo rapaz e não por causa de ódio que pudesse sentir dele. – pois, bastou ele abrir seus braços e logo ela se derreteu de amores por ele, cessando com isso, aquela desastrosa “briga”. – logo em frente havia um casal de idosos que se abraçava olhando um para os olhos do outro, um velhinho e uma velhinha. – eu podia sentir que naquela troca de olhares havia uma história de vida contada ali mesmo em fração de segundos. – parecia um tipo de olhar de gratidão, de permanência, de existência, de sabor de vida, de cordialidade, de satisfação, de contentamento, de que a eternidade seria pouca em se tratando daquela coexistência de ambos. – mas vi também que as pessoas não estavam preocupadas em observar as pessoas. – entretanto, eu estava vendo todos esses acontecimentos por onde eu passava (caminhava). – vi também o desespero de uma mãe que perdera seu filho, estava desesperada e preocupada com o que teria que dizer ao marido, afinal, como poderia ela ser tão negligente a ponto de perder o bem maior do casal, seu filho, seu único filho? – com esse acontecimento, claro, ficamos todos desesperados juntos com aquela mãe, e logo estava eu e dezenas de pessoas chamando o Caíque, ali e acolá, gritando: - Caíque! Caíque! Onde está você? – enquanto eu gritava, agora com quase centenas de pessoas o nome do Caíque, veio um senhor com quase três metros de altura, um excelente desportista, com aqueles seus passos largos, devolver o Caíque à sua mãe, dizendo que ele estava perdido, chorando e, gritando o nome da sua mãe. – para a alegria de todos nós, da mãe inclusive, o Caíque foi encontrado pelo nobre senhor que se dignou a procurar a mãe do menino e não sossegou enquanto não cumpriu com o seu altruísmo verdadeiro, nutrido pela perseverança. – ali mesmo houve uma salva de palmas com direito a assovio e tapinhas nas costas largas daquele bom senhor de seus mais ou menos 65 anos de idade. – naquele momento me senti dentro do sentido da vida. – bem, resolvi prosseguir na minha caminhada dentro do Parque, andei, andei e andei, pensei, será que não haverá mais nada de interessante nesse maravilhoso Parque? – assim, foi só eu dizer as últimas palavras e logo ouvi outra moça com um lindo violão nas mãos, dizendo: - Já que vocês pediram, eu canto! – Ela começou a cantar uma linda canção, seus dedos passeavam sobre as cordas do violão de maneira suave. – sua voz parecia acariciar o som das cordas, ninguém ousava dizer uma só palavra. – eu não resisti, sentei-me ali mesmo, na verdade nem me preocupei onde devia me assentar, ouvidos, olhos, sentimentos, pensamentos, todos voltados para ela que cantava com a maior delicadeza, o violão se fundira nela e ela ao violão, havia uma consonância em tudo, lembro-me que foi uma das poucas vezes que pude contemplar a existência da vida numa vida tão singular, que, de um jeito delicado, meigo, carinhoso, desarmado, dava tanta vida às vidas que presenciavam aquele instante ímpar. – fiquei ali e não tive pressa para ir embora, não falei uma só palavra, apenas a observei. – depois, sim, tive que ir-me, e fui.

P. S. - A pedido, voltei com as fotos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O Sábio

Por Salomão – (filho de Davi e rei de Jerusalém)

São estas as palavras do Sábio, que era filho de Davi e rei em Jerusalém. É ilusão, é ilusão, diz o Sábio. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço — um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: “Veja! Isto nunca aconteceu no mundo”? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos. Ninguém lembra do que aconteceu no passado; quem vier depois das coisas que vão acontecer no futuro também não vai lembrar delas. Eu, o Sábio, fui rei de Israel, em Jerusalém. E resolvi examinar e estudar tudo o que se faz neste mundo. Que serviço cansativo é este que Deus nos deu! Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo e digo: tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Ninguém pode endireitar o que é torto, nem fazer contas quando faltam os números. E pensei assim: “Eu me tornei um grande homem, muito mais sábio do que todos os que governaram Jerusalém antes de mim. Eu realmente sei o que é a sabedoria e o que é o conhecimento.” Assim, procurei descobrir o que é o conhecimento e a sabedoria, o que é a tolice e a falta de juízo. Mas descobri que isso é o mesmo que correr atrás do vento. Quanto mais sábia é uma pessoa, mais aborrecimentos ela tem; e, quanto mais sabe, mais sofre. Então resolvi me divertir e gozar os prazeres da vida. Mas descobri que isso também é ilusão. Cheguei à conclusão de que o riso é tolice e de que o prazer não serve para nada. Procurei ainda descobrir qual a melhor maneira de viver e então resolvi me alegrar com vinho e me divertir. Pensei que talvez fosse essa a melhor coisa que uma pessoa pode fazer durante a sua curta vida aqui na terra. Realizei grandes coisas. Construí casas para mim e fiz plantações de uvas. Plantei jardins e pomares, com todos os tipos de árvores frutíferas. Também construí açudes para regar as plantações. Comprei muitos escravos e além desses tive outros, nascidos na minha casa. Tive mais gado e mais ovelhas do que todas as pessoas que moraram em Jerusalém antes de mim. Também ajuntei para mim prata e ouro dos tesouros dos reis e das terras que governei. Homens e mulheres cantaram para me divertir, e tive todas as mulheres que um homem pode desejar. Sim! Fui grande. Fui mais rico do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim, e nunca me faltou sabedoria. Consegui tudo o que desejei. Não neguei a mim mesmo nenhum tipo de prazer. Eu me sentia feliz com o meu trabalho, e essa era a minha recompensa. Mas, quando pensei em todas as coisas que havia feito e no trabalho que tinha tido para conseguir fazê-las, compreendi que tudo aquilo era ilusão, não tinha nenhum proveito. Era como se eu estivesse correndo atrás do vento. Então comecei a pensar no que é ser sábio e no que é ser tolo ou sem juízo. Por exemplo: será que um rei pode fazer alguma coisa que seja nova? Não! Só pode fazer o que fizeram os reis que reinaram antes dele. E cheguei à conclusão de que a sabedoria é melhor do que a tolice, assim como a luz é melhor do que a escuridão. Os sábios podem ver para onde estão indo, mas os tolos andam na escuridão. Porém eu sei que o mesmo que acontece com os sábios acontece também com os tolos. Aí eu pensei assim: “O que acontece com os tolos vai acontecer comigo também. Então, o que é que eu ganhei sendo tão sábio?” E respondi: “Não ganhei nada!” Ninguém lembra para sempre dos sábios, como ninguém lembra dos tolos. No futuro todos nós seremos esquecidos. Todos morreremos, tanto os sábios como os tolos. Por isso, a vida começou a não valer nada para mim; ela só me havia trazido aborrecimentos. Tudo havia sido ilusão; eu apenas havia corrido atrás do vento. Tudo o que eu tinha e que havia conseguido com o meu trabalho não valia nada para mim. Sabia que teria de deixar tudo para o rei que ficasse no meu lugar. E ele poderia ser um sábio ou um tolo — quem é que sabe? No entanto, ele seria o dono de todas as coisas que eu consegui com o meu trabalho e ficaria com tudo o que a minha sabedoria me deu neste mundo. Tudo é ilusão. Então eu me arrependi de ter trabalhado tanto e fiquei desesperado por causa disso. A gente trabalha com toda a sabedoria, conhecimento e inteligência para conseguir alguma coisa e depois tem de deixar tudo para alguém que não fez nada para merecer aquilo. Isso também é ilusão e não está certo! Nós trabalhamos e nos preocupamos a vida toda e o que é que ganhamos com isso? Tudo o que fazemos na vida não nos traz nada, a não ser preocupações e desgostos. Não podemos descansar, nem de noite. É tudo ilusão. A melhor coisa que alguém pode fazer é comer e beber e se divertir com o dinheiro que ganhou. No entanto, compreendi que mesmo essas coisas vêm de Deus. Sem Deus, como teríamos o que comer ou com que nos divertir? Ele dá sabedoria, conhecimento e felicidade às pessoas de quem ele gosta. Mas Deus faz com que os maus trabalhem, economizem e ajuntem a fim de que a riqueza deles seja dada às pessoas de quem ele gosta mais. Tudo é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de construir. Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar; tempo de chorar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de afastar. Há tempo de procurar e tempo de perder; tempo de economizar e tempo de desperdiçar; tempo de rasgar e tempo de remendar; tempo de ficar calado e tempo de falar. Há tempo de amar e tempo de odiar; tempo de guerra e tempo de paz. O que é que a pessoa ganha com todo o seu trabalho? Eu tenho visto todo o trabalho que Deus dá às pessoas para que fiquem ocupadas. Deus marcou o tempo certo para cada coisa. Ele nos deu o desejo de entender as coisas que já aconteceram e as que ainda vão acontecer, porém não nos deixa compreender completamente o que ele faz. Então entendi que nesta vida tudo o que a pessoa pode fazer é procurar ser feliz e viver o melhor que puder. Todos nós devemos comer e beber e aproveitar bem aquilo que ganhamos com o nosso trabalho. Isso é um presente de Deus. Eu sei que tudo o que Deus faz dura para sempre; não podemos acrescentar nada, nem tirar nada. E uma coisa que Deus faz é levar as pessoas a temê-lo. Tudo o que acontece ou que pode acontecer já aconteceu antes. Deus faz com que uma coisa que acontece torne a acontecer. Neste mundo eu também reparei o seguinte: no lugar onde deviam estar a justiça e o direito, o que a gente encontra é a maldade. Então pensei assim: “Deus julgará tanto os bons como os maus porque tudo o que se passa neste mundo, tudo o que a gente faz, acontece na hora que tem de acontecer.” Aí cheguei à conclusão de que Deus está pondo as pessoas à prova para que elas vejam que não são melhores do que os animais. No fim das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com os animais. Tanto as pessoas como os animais morrem. O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois têm de respirar para viver. Como se vê, tudo é ilusão, pois tanto um como o outro irão para o mesmo lugar, isto é, o pó da terra. Tanto um como o outro vieram de lá e voltarão para lá. Como é que alguém pode ter a certeza de que o sopro de vida do ser humano vai para cima e que o sopro de vida do animal desce para a terra? Assim, eu compreendi que não há nada melhor do que a gente ter prazer no trabalho. Esta é a nossa recompensa. Pois como é que podemos saber o que vai acontecer depois da nossa morte? Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem; porém mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol. Então, vi que todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento. O tolo cruza os braços e come a própria carne, dizendo: Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento. Então, considerei outra vaidade debaixo do sol, isto é, um homem sem ninguém, não tem filho nem irmã; contudo, não cessa de trabalhar, e seus olhos não se fartam de riquezas; e não diz: Para quem trabalho eu, se nego à minha alma os bens da vida? Também isto é vaidade e enfadonho trabalho. Melhor serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade. Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar, ainda que aquele saia do cárcere para reinar ou nasça pobre no reino deste. Vi todos os viventes que andam debaixo do sol com o jovem sucessor, que ficará em lugar do rei. Era sem conta todo o povo que ele dominava; tampouco os que virão depois se hão de regozijar nele. Na verdade, que também isto é vaidade e correr atrás do vento. Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também, nas muitas palavras; tu, porém, teme a Deus. Se vires em alguma província opressão de pobres e o roubo em lugar do direito e da justiça, não te maravilhes de semelhante caso; porque o que está alto tem acima de si outro mais alto que o explora, e sobre estes há ainda outros mais elevados que também exploram. O proveito da terra é para todos; até o rei se serve do campo. Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano. E, se tais riquezas se perdem por qualquer má aventura, ao filho que gerou nada lhe fica na mão. Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e do seu trabalho nada poderá levar consigo. Também isto é grave mal: precisamente como veio, assim ele vai; e que proveito lhe vem de haver trabalhado para o vento? Nas trevas, comeu em todos os seus dias, com muito enfado, com enfermidades e indignação. Eis o que eu vi: boa e bela coisa é comer e beber e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, com que se afadigou debaixo do sol, durante os poucos dias da vida que Deus lhe deu; porque esta é a sua porção. Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus. Porque não se lembrará muito dos dias da sua vida, porquanto Deus lhe enche o coração de alegria.