A morte são as controvérsias
existenciais na vida das pessoas nos seus tratos e maus-tratos.
Antes mesmo de morrermos não aceitamos,
não queremos, não somos a favor, não admiramos, não entendemos, não ajudamos,
não pedimos perdão, não perdoamos, não convivemos, não cedemos, não
flexibilizamos, não notamos, não satisfazemos, não incluímos, não nos submetemos,
não confiamos, não partilhamos, não compartilhamos, não respeitamos, não
queremos ouvir, não estudamos nada para entender o que não queremos, não
sorrimos para que o outro não perceba a nossa alegria, não choramos para que o
outro não perceba a nossa dor, não exalamos nosso perfume para que o outro não
sinta o nosso cheiro, não estamos dispostos a diálogo a fim de que o outro
continue demoradamente sem entender, não queremos que outros saibam mais que
nós, não nos submetemos ao conhecimento e capacidade do outro para que ele não
tenha esta vitória sobre nós, não daremos uma chance à amizade porque não
sabemos se ela existe, não daremos abraço por saber conscientemente que a
reciprocidade é pura balela, não haverá simpatia em nós, pois, sabemos que
durante nossa adolescência souberam abusar da nossa meiguice e calor humano
transformando tudo num vácuo desvantajoso, sem possibilidade de relações
pacíficas e humanas centradas na benevolência, não somos amáveis porque o mundo
é um cão, não ajudamos o próximo porque ele poderá se acostumar com isso, não valorizamos
o que é bom porque isso não dá curtidas nas redes sociais, não escrevemos
coisas boas porque ninguém irá ler, não lemos livros porque o mundo está
vidrado na internet, não temos amizade com o nosso vizinho porque ele nunca se
importou com isso, não valorizamos quem quer nos ajudar porque quem quer ajudar
alguém hoje em dia? Não fechamos os olhos para sentir o vento porque isso não
existe, não imaginamos porque imaginar é coisa de bobo, não saímos de perto das
pessoas porque não acostumamos com nós mesmos, aliás, temos medo de nós mesmos
por causa das nossas pretensões desmedidas, descabidas, e em muitos casos...
por enquanto é melhor deixar para lá, não somos a favor das coisas boas porque
afinal quem quer coisas boas hoje em dia? Não sabemos dar opinião própria
porque não queremos ficar num polo distante da opinião dos da maioria, não nos
importamos, não nos dedicamos, não nos contemplamos, não nos aproximamos, não
nos valorizamos, não nos enriquecemos, não nos protegemos, não nos permitimos,
não nos reivindicamos, não nos conhecemos, não queremos nada com todos e nem mesmo
com nós mesmos, não queremos dividir nossa tristeza ou felicidade, não queremos
dividir nossas condições boas ou ruins, não estamos dispostos, não queremos é
só isso, apenas não, não, não e não, e quando nós menos percebemos constatamos
que não resta mais tempo para vivermos a vida.